quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

“Sublimando” - Momentos de reflexão. Por Maria Cristina Quartas






“Viver não é necessário. Necessário é criar."
(Fernando Pessoa)





Final de Dezembro…
É chegado o momento mais importante do ano para mim: Fim duma etapa, início de outra…
Sempre aproveito para fazer um balanço do ano que fica para trás. E dos pontos mais relevantes, tiro uma ilação, que normalmente vai ser o ponto forte no ano seguinte, onde irei mais investir e trabalhar (aperfeiçoando) juntamente com outros aspectos, (não tão menos importantes da vida).
E como já vai sendo uma tradição de há alguns anos a esta parte, gosto de partilhá-la com os amigos.
E por isso, aqui estou….
É um pouco difícil escolher um ponto relevante de 2009. Mas, opto por escolher um mote chave, que me parece enquandrar-se de uma forma generalizada, em tantas coisas que aconteceram e me marcaram.
Por isso, escolhi esta frase de Fernando Pessoa: “Viver não é necessário. Necessário é criar."
Como previa em 2008, este ano foi mais um longo período de aprendizagem, reflexão… muito orientada para aquilo que eu chamo de “reconstrução interior” (pelas razões conhecidas…).
Pois bem, há um aspecto muito interessante que denotei este ano. Um aspecto que se realçou em mim (duma forma muito natural), em favor de alguns sentimentos mais dolorosos e menos agradáveis. Como a angústia, a ansiedade, a frustração – o sentido de humor.
A melhor forma de se lidar com as situações mais difíceis é usar o humor. O sentido bizarro e caricato das coisas dão-lhe um aspecto completamente diferente. É uma forma de descontrairmos, de descentralizar a atenção e preocupação, criadas em determinados momentos. E que tanto nos impedem de reflectirmos com assertividade. Rir faz bem e é contagiante.
A boa disposição liberta-nos, desbloqueia-nos. E muitos problemas que nos pareciam complicadíssimos, passam a ser meros desafios, que serão muitas das vezes, ultrapassados duma forma (diria) quase lúdica.
Penso que o humor é uma arte. Ele aprende-se e aperfeiçoa-se.
A alma do humor é a CRIATIVIDADE.
Partilho um pequeno texto, que escrevi há pouco tempo:

“A Criatividade é uma das fórmulas mágicas para o "não-envelhecimento". Nas mais variadas coisas da vida podemos ser criativos. Desde a cozinha, no emprego, na decoração da casa, na arte, na cama (lol), et cetera et cetera… nas relações intra/inter-pessoais.
A Criatividade é a lufada que anima, incentiva, motiva o nosso dia-a-dia... e a Vida. É o arco-íris na nossa existência.Existe uma forte correlação entre o QI e o potencial criativo. A Inteligência é a capacidade de resolução de problemas de acordo com as aptidões de cada um. E a Criatividade é a capacidade que o indivíduo tem de resolver problemas procurando novas soluções, ideias originais e inovações utilizáveis. Por sua vez, esta tem como sustento a imaginação.
Dar asas à imaginação é pois, fazer desencadear todo o processo que permite desenvolver, exteriorizando as nossas aptidões para a Criatividade e Talentos. Um bom exercício para melhorar a Inteligência.

Há quem defenda que a Criatividade tem a ver com o processo de desenvolvimento cognitivo na infância. Outros autores afirmam que é um factor hereditário.
Bom, contudo, sabemos que todos nós temos essa aptidão, e essa faz parte integrante do Homem (e que se distingue dos outros animais, por isso também).
Uns mais, outros menos... todos nós podemos ser criativos de alguma forma. E isso é um treino que podemos fazer. Aprender a fazer.
Sabemos também, que ao desenvolvermos a Criatividade em nós, estamos a desenvolver as capacidades de humor, optimismo, sentido estético (belo, agradável, harmonioso)… E se, mentalmente, cultivamos esse estado de motivação e entusiasmo, é obvio que o nosso corpo vai recepcionar e emitir a sensação do bem-estar, do aprazível.Sem explicações psicofisiológicas… sabemos que, quando somos criativos, sentimos relaxamento muscular, o sangue a circular mais depressa, o coração a bater mais vivamente e duma forma harmoniosa… é pois psicossomático sem dúvida alguma.
Quando somos criativos ou pelo menos, quando nos desempoeiramos e dispomo-nos para esse lado das coisas, ficamos mais bonitos, mais alegres, mais sorridentes, mais felizes. Ficamos com um brilhozinho nos olhos, a pele mais sedosa… Diria, apaixonados! (ou pelo menos, com alguns dos seus sintomas!!!)Em Psicologia, mais propriamente em psicoterapia, é muito usada a Arteterapia, musicoterapia. São técnicas expressivas, que levam o indivíduo a “soltar-se”, a exteriorizar o que verbalmente não consegue fazer.Costumo aconselhar, como remédio caseiro, quando a pessoa está mais depressiva ou mais triste, a pegar numa folha de papel e escrever, ou pintar…. Ou então, por musica a tocar e balançar o corpo ao seu som. Fechar os olhos e deixar-se levar…
Mozart, Van Gogh, Schumman, Sting, Peter Gabriel, W. Churchill, Carlos VI o Louco, Rei de França, Kurt Cobain, Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Jim Morrison... (com Perturbações de Bipolaridade…)…tantos e tantos outros, que sentiram o azedume da vida e nos momentos mais dolorosos, como meio de alívio e como bálsamo, libertaram o seu instinto através da sua Criatividade.
E a Arte o que é, senão a forma mais pura de expressão com Criatividade, numa linguagem instintiva e genuína?!Um bom desafio para 2010!
E podemos começar já, com os postaizinhos de Natal e as prendinhas para o sapatinho.
- um poema ou verso dedicado à pessoa;
- um frasquinho de iogurte ou café…que ia para o lixo… com uma flor pintada/uma borboleta;
- uma pega feita de croché/renda, ou pano duma camisa velha… pespontado em volta com lã colorida;
- rolos de papel higiénico enchidos com drops e bombons… embrulhado em papel celofane… e um laçarote de fita colorida (para as crianças…);
- biscoitinhos caseiros (até está bom tempo para isso) numa caixinha velha forrada com papel de prata… e por fora uma aguarela feita pelos nossos filhos;
- compotas feitas com frutos da época dentro de frasquinhos que se compra na loja dos Chineses… e pôr os maridos ou namorados a partir nozes/avelãs/amêndoas… e misturar no doce feito… embrulhar num pano velho de linho (restos duma roupa qualquer) atado com uma trança de lã vermelha/amarela/azul…;
- etc……etc…..etc…..
Hoje está um bom dia para ser Criativo: céu cinzento, chuva, frio…
Há pequenos momentos na vida que nos marcam. E partilhar, por exemplo, uma coisa destas com as nossas crianças, não só lhes estimula a Criatividade, como os aconchega numa atitude de muita partilha, cumplicidade, afecto e ternura. E não serão este tipo de coisas, as maiores heranças que podemos deixar aos nossos filhos? Não será tudo isto que fazemos, criamos… tantas vezes em pequenos momentos na vida… que marcamos a nossa presença nos outros e lhes deixamos saudade duma forma impar?”

Depois deste texto, penso que nada mais é necessário dizer.


Paro por uns instantes….e olho o céu pela janela (enorme) do meu gabinete.
As lágrimas caem-me pelo rosto…
Como eu gostava de poder também partilhar contigo, o que sinto dentro de mim!...

Um forte e caloroso abraço.

Maria Cristina Quartas
30/Dez/2009

domingo, 27 de dezembro de 2009

"O culto da morte - na nossa cultura", por Maria Cristina Quartas

A morte é um “fenómeno” natural, que o Homem desde o princípio dos tempos a tem caracterizado com misticismo, magia e mistério.
O ser Humano é por natureza um Ser místico. É através deste misticismo, que ele tenta se compensar, equilibrar e de alguma forma recriar as explicações que o satisfaçam, naquilo que não compreende, ou não consegue alcançar. Como Ser pensante e racional, tem necessidade imediata, de obter resposta às suas questões. A "não resposta" àquilo que ele equaciona, ou pretende entender, cria-lhe ansiedade e angustia, pela incompreensão das suas próprias limitações.
Através da Religião (do latim: "religio" usado na Vulgata, que significa "prestar culto a uma divindade", “ligar novamente", ou simplesmente "religar"), o Homem não só minimiza o seu sofrimento da angustia causada pelas suas limitações e incongruências (pondo a cima dele uma identidade mais inteligente e detentora de toda a verdade – verdade essa que ele não consegue alcançar)… como pratica um acto social/colectivo, onde sente o apoio do aconchego, pela consensualização da compreensão e pela partilha.
O culto da morte é um acto religioso. Devido à angustia e dor da separação e do desenlace, o Homem pratica esse acto, para sentir que de alguma forma é compreendido na sua dor e sofrimento. Para sentir amparado na sua fragilidade. E também para de alguma forma prestar homenagem a quem parte e com quem conviveu, partilhou e amou. Diria que, em certa forma o imortalizar…
Ou seja, se por um lado procura a protecção/aconchego/compreensão Divina, por outro, concentra a sua dor na partilha com os de mais. Talvez esta dualidade de comportamento, tenha a sua explicação na insatisfação de resposta, quer num ou noutro (quer na Divindade Superior, quer nos outros Seres humanos)....
Assim, o culto da morte é um acto colectivo, por uma necessidade que tem a sua génese no individual.
O Homem, através do social/colectivo sente uma maior protecção… o que remonta à história primitiva do Homem…
Esta é uma perspectiva no meu ver.

Contudo, existe uma outra perspectiva, também com génese no individual: o medo e a angustia do esquecimento (isto é, de não ser mais lembrado - o fim das coisas – o NADA - uma noção difícil de entendimento). De facto, viver uma vida de constantes preocupações de entendimento das coisas e de si mesmo… de uma incessante inquietação na busca de respostas e explicações das coisas e do Mundo…. para além de toda uma basta experiencia de aprendizagem, de conhecimentos, sentimentos, emoções e experiências…. Coloca-se obviamente a questão: para quê tudo isto se um dia tudo acaba?!
Ao conceituarmo-nos na perpetuidade da vida e da alma, o Homem cria uma razão para a justificação de toda esta sua existência.
Existe assim, um medo individual ao esquecimento e a esta coisa assim designada: “tanta coisa para coisa nenhuma”!
O culto da morte é assim também, uma celebração ao não esquecimento e perpetuação da lembrança daquele ser, pela sua importância com os demais nesta vida terrena. Ao celebrarmos o outro, estamos a fazer lembrar os outros de nós – a afirmar a nossa importância da nossa existência.
Diria, uma renegação da morte e ao mesmo tempo uma afirmação individual de posse perante a vida. Há aqui um processo de vinculação existencial. Que curiosamente, me parece que funciona de nós, para nós mesmos!

Com a evolução dos tempos, este culto tem sofrido alterações. O comportamento do Homem, tem como base uma cultura e uma educação. Ora, se estas evoluem, obviamente que as manifestações comportamentais humanas mudam também.
Essas mudanças que ocorrem ao longo da história das culturas fazem-se duma forma lenta. O que é de se compreender! De geração em geração passa a tradição, e sendo esta uma crença estreitamente individualizada, passa a ser uma necessidade intrínseca do Homem.

Com o evoluir da Ciência e das tecnologias, o Homem vai descobrindo que afinal o seu Deus, não é tão prodigioso quanto isso. Se por um lado, ele permite o sofrimento, a injustiça, a incompreensão, as limitações humanas, as guerras, as doenças…. O Homem também é capaz de fazer algumas coisas fantásticas, nas quais Ele afinal se mostra menos prodigioso até então. O Homem já é capaz de fazer clones…fazer transplantes, cirurgias, parar/tratar doenças… dominar as energias nucleares, biológicas…consegue ir a outros planetas…consegue num mesmo momento acabar de escrever uma mensagem e ela ser lido pelo mundo inteiro…

Bom, será que o Deus deste século é tão poderoso quanto o Deus de há séculos atrás?
Parece que efectivamente não é.
As crises existenciais começam a aparecer. O que era certo e inquestionável começa agora a criar duvidas… os olhares são diferentes… os sentimentos são direccionados não de baixo para cima, mas de cima para baixo….
A religiosidade já não é a mesma. E naturalmente, o culto da morte, começa a entrar em “crise”!!!...

As pessoas não se apercebem. As pessoas não sabem. Apenas sabem que existem normas sociais, estereótipos sociais… e como tal, duma forma (diria) completamente encenadora vão-se comportar (porque é tradição, porque é habito, porque é costume, porque é o normal..).
É uma atitude individual inconsciente. E acaba por se reflectir numa atitude simulatória de sentimentos que não têm o valor que lhe é atribuído. Ou seja, o culto da morte passa a ser dirigido não ao morto, mas à relevância/à importância da existência do vivo.
Se assim é, não será o culto da morte mais uma das muitas formas de exibicionismo público de vivos, cujo motivo tem origem num morto?

Para reflectir! …

Maria Cristina Quartas

domingo, 13 de dezembro de 2009

"Poema Inacabado"

Cria o Homem um Deus
na necessidade de se explicar.
Inventa filosofias, teorias…
para assim uma razão encontrar.

Uns, porque sem explicação
não podem viver
equacionam, elevam ao quadrado
tudo o que querem compreender.

Assim com tanta perfeição
separa e impõe barreiras.
Porque para estes
só as matemáticas são verdadeiras!

Outros, porque só acreditam vendo
pouco se importam com as utopias.
Criam laboratórios, usam cobaias
afirmam novas teorias.

Passam do pensamento à acção
passando pela experimentação.
Convencem-se que o resultado é certo
e só ai poderão estar mais perto.

Há ainda aqueles, que se inspiram na Criação
Evocam Alá, Maomé, Jeová, Deus, Forças Superiores…
Elevam pensamentos, irradiam vibrações…
Pouco se preocupam com as explicações.

Ignorando as leis da Física e da Química
tudo lhes parece certo.
Porque só indo tão longe…
sentem-se mais perto.

Existem uns outros
que dizem em nada acreditar.
Vivem do pão do dia-a-dia
porque é tudo o que a vida lhes tem a dar.

Esses vivem vivendo sem muito pensar.
É o destino, é o fado, é tudo programado!
“Donde vim?”, “ Para onde vou?”…
O que importa é o que sou!

Mas com tanta especulação
e com tantas razões encontradas
porque se sente o Homem
com tantas certezas inacabadas?

Flutuando nas ondas do mar imenso
nas águas que banham a sua existência
perde-se no rebuliço das tempestades e marés
ao desencontro da sua própria essência.

Maria Cristina Quartas

"Eu"

Neste horizonte
sou apenas um grão de areia num imenso deserto.
Para além deste horizonte,
olho para os continentes, para os mares…
e já não sou mais nada.
Toda a minha dimensão desapareceu
e sou apenas uma pequena partícula,
quase invisível, deste mundo.
O meu olhar eleva-se ao firmamento.
Aí as montanhas tornam-se ainda mais pequenas
que nem godo na praia.
E o Oceano, os oceanos
como uma gota de chuva.
Olho em volta.
Mundos e mais Mundos em redor…
Júpiter, Vénus, Marte…
Meu Deus!
Que dimensão exígua da Terra à beira destes Planetas!
E eles?!
Vejo-os perdidos neste imenso espaço
de todo um sistema de Mundos,
de Estrelas, de Buracos Escuros,
de Sois, de Luas…
Ultrapasso todo este espaço e…
Vejo Galáxias, mais Galáxias,
novos sistemas, novas Estrelas, novos Mundos…
Perdi-me.
Agora sou apenas pensamento.
Consciência cósmica num espaço Infinito, sem dimensões.
Sou as Galáxias dum Todo.
Sou os Mundos desses sistemas.
Sou as montanhas e os oceanos do planeta Terra.
Sou o grão de areia, a gota de água nos horizontes.
Sou a molécula, o átomo dessas partículas.
Sou ião, fotão…
Sou tudo e isto e muito mais.
Sempre que tome a consciência
d’onde vim, para onde vou – O QUE SOU.

Maria Cristina Quartas

"Atenção Poetas!"

...um minuto de silêncio, por favor,
porque uma estrela se apagou.
Apagou-se a estrela mais pequenina,
mas a mais brilhante de todas as estrelas,
que iluminava a minha alma
e adornava o meu ser.
Jamais verei o pôr-do-sol
sobre o horizonte como dantes,
porque nele sepulta a luz
que me dava vida
e alimentava a minha inspiração.
O céu veste de luto,
e de luto está minha alma
de tão inefável penar.
Não haverá mais alvoradas,
porque o dia se fez noite,
e a noite o sepulcro do meu alento.
Poetas: um minuto , por favor!
Deixem-me invocar Tétis, Vénus…
Dizer-lhes que não foi em vão que escrevi
um poema sobre o AMOR e a ETERNIDADE.
Deixem-me dizer-lhe que anda me resta
a esperança de um dia também ser…
- uma estrela.
Só lhe quero dizer Poetas:
- PRECISO DUM MINUTO DE SILÊNCIO.

Maria Cristina Quartas

"Eu..."

…Sou um barco perdido na maré.
Sou uma criança sem mãe.
Uma lágrima no teu rosto.
Uma nuvem arrastada pelo vento.
Um vento que passa.
Uma sombra do passado.
Um choro de criança.
Sou melodia.
Sou uma flor morta no chão.
Sou miséria no Mundo.
Um mal em pessoa.
Uma fonte seca.
Um rio poluído.
Sou as armas e os gritos.
Sou um raio num dia de trovão.
Sou o teu reflexo.
Sou uma máquina mal ligada.
Sou…
Eu sou eu e não sou ninguém.


Maria Cristina Quartas
1985