domingo, 13 de dezembro de 2009

"Poema Inacabado"

Cria o Homem um Deus
na necessidade de se explicar.
Inventa filosofias, teorias…
para assim uma razão encontrar.

Uns, porque sem explicação
não podem viver
equacionam, elevam ao quadrado
tudo o que querem compreender.

Assim com tanta perfeição
separa e impõe barreiras.
Porque para estes
só as matemáticas são verdadeiras!

Outros, porque só acreditam vendo
pouco se importam com as utopias.
Criam laboratórios, usam cobaias
afirmam novas teorias.

Passam do pensamento à acção
passando pela experimentação.
Convencem-se que o resultado é certo
e só ai poderão estar mais perto.

Há ainda aqueles, que se inspiram na Criação
Evocam Alá, Maomé, Jeová, Deus, Forças Superiores…
Elevam pensamentos, irradiam vibrações…
Pouco se preocupam com as explicações.

Ignorando as leis da Física e da Química
tudo lhes parece certo.
Porque só indo tão longe…
sentem-se mais perto.

Existem uns outros
que dizem em nada acreditar.
Vivem do pão do dia-a-dia
porque é tudo o que a vida lhes tem a dar.

Esses vivem vivendo sem muito pensar.
É o destino, é o fado, é tudo programado!
“Donde vim?”, “ Para onde vou?”…
O que importa é o que sou!

Mas com tanta especulação
e com tantas razões encontradas
porque se sente o Homem
com tantas certezas inacabadas?

Flutuando nas ondas do mar imenso
nas águas que banham a sua existência
perde-se no rebuliço das tempestades e marés
ao desencontro da sua própria essência.

Maria Cristina Quartas

"Eu"

Neste horizonte
sou apenas um grão de areia num imenso deserto.
Para além deste horizonte,
olho para os continentes, para os mares…
e já não sou mais nada.
Toda a minha dimensão desapareceu
e sou apenas uma pequena partícula,
quase invisível, deste mundo.
O meu olhar eleva-se ao firmamento.
Aí as montanhas tornam-se ainda mais pequenas
que nem godo na praia.
E o Oceano, os oceanos
como uma gota de chuva.
Olho em volta.
Mundos e mais Mundos em redor…
Júpiter, Vénus, Marte…
Meu Deus!
Que dimensão exígua da Terra à beira destes Planetas!
E eles?!
Vejo-os perdidos neste imenso espaço
de todo um sistema de Mundos,
de Estrelas, de Buracos Escuros,
de Sois, de Luas…
Ultrapasso todo este espaço e…
Vejo Galáxias, mais Galáxias,
novos sistemas, novas Estrelas, novos Mundos…
Perdi-me.
Agora sou apenas pensamento.
Consciência cósmica num espaço Infinito, sem dimensões.
Sou as Galáxias dum Todo.
Sou os Mundos desses sistemas.
Sou as montanhas e os oceanos do planeta Terra.
Sou o grão de areia, a gota de água nos horizontes.
Sou a molécula, o átomo dessas partículas.
Sou ião, fotão…
Sou tudo e isto e muito mais.
Sempre que tome a consciência
d’onde vim, para onde vou – O QUE SOU.

Maria Cristina Quartas

"Atenção Poetas!"

...um minuto de silêncio, por favor,
porque uma estrela se apagou.
Apagou-se a estrela mais pequenina,
mas a mais brilhante de todas as estrelas,
que iluminava a minha alma
e adornava o meu ser.
Jamais verei o pôr-do-sol
sobre o horizonte como dantes,
porque nele sepulta a luz
que me dava vida
e alimentava a minha inspiração.
O céu veste de luto,
e de luto está minha alma
de tão inefável penar.
Não haverá mais alvoradas,
porque o dia se fez noite,
e a noite o sepulcro do meu alento.
Poetas: um minuto , por favor!
Deixem-me invocar Tétis, Vénus…
Dizer-lhes que não foi em vão que escrevi
um poema sobre o AMOR e a ETERNIDADE.
Deixem-me dizer-lhe que anda me resta
a esperança de um dia também ser…
- uma estrela.
Só lhe quero dizer Poetas:
- PRECISO DUM MINUTO DE SILÊNCIO.

Maria Cristina Quartas

"Eu..."

…Sou um barco perdido na maré.
Sou uma criança sem mãe.
Uma lágrima no teu rosto.
Uma nuvem arrastada pelo vento.
Um vento que passa.
Uma sombra do passado.
Um choro de criança.
Sou melodia.
Sou uma flor morta no chão.
Sou miséria no Mundo.
Um mal em pessoa.
Uma fonte seca.
Um rio poluído.
Sou as armas e os gritos.
Sou um raio num dia de trovão.
Sou o teu reflexo.
Sou uma máquina mal ligada.
Sou…
Eu sou eu e não sou ninguém.


Maria Cristina Quartas
1985