quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

"O beijo", por Maria Cristina Quartas

A escultura “O beijo” (1887), do artista francês Auguste Rodin


Hoje vamos falar sobre o “BEIJO”.

“Ora aqui está um tema de real interesse!” - Pensam os amigos que me estão a ler.
Pois bem, quem não gosta de “beijos”, mesmo que de “beijinhos” se tratem?! Sejam eles um simples toque de lábios, ou um gesto mais prolongado de sensualidade…seja dado como forma de cumprimento, ou como manifestação dum sentimento.

Talvez nunca tenhamos pensado porque é que o “beijo” é algo tão bom, tão gostoso. Porque será que este simples gesto alenta corações, faz sorrir e tantas vezes é um acto milagroso entre duas almas mais azedadas?
Dar beijinhos, receber beijinhos… alguns pessoas são verdadeiramente “artistas” na arte de beijar. E outras, nem por isso, mas mesmo assim, não ficam indiferentes a uma “boa beijoca” ali mesmo na hora “H”!

Será que há técnicas para um bom beijo? Mas afinal, o que é o beijo: o simples gesto do toque da boca ou algo mais? E porque será que um beijo roubado por vezes sabe tão bem? Porque é que os beijos, sendo eles todos dados da mesma forma (mais ou menos) têm significados e proporcionam sensações tão diferentes?

Ora vamos lá esmiuçar isto dos “beijos”, “beijinhos” e “beijocas” para entendermos melhor este nosso tão simples gesto e também ficarmos a saber apreciá-los mais e melhor!... e desta forma então, sermos capazes de surpreendermos alguém no momento exacto! Afinal, o beijo tem a sua arte, e é importante sabermos apresentá-lo consoante as circunstâncias e intenções.

Desde muito cedo, a boca é a primeira fonte de prazer. Com poucas semanas apenas de vida, além de algumas expressões faciais, provocadas pelos movimentos musculares, as papilas gustativas já estão desenvolvidas. As investigações têm demonstrado que o feto faz careta e pára de engolir quando uma gota de substância amarga é colocada no líquido amniótico. Por outro lado, uma substância doce provoca a aceleração dos movimentos de sucção e deglutição.

Aliás, o prazer do paladar continua na fase em que o bebé se amamenta através do mamilo da sua mãe. Daí para frente, o paladar fica cada vez mais apurado.

A boca é uma das partes que compõe o rosto de qualquer pessoa. Quanto a isto, não restam margem para dúvidas. A zona bocal é a última parte a adquirir todas as formas e recortes finais, embora seja a primeira a sentir as emoções iniciais da vivência.

A língua é a base de todo o paladar e a boca é uma das partes mais sensíveis do corpo e mais versáteis. Um beijo combina os três sentidos de tacto, paladar e olfacto.

O acto põe em acção diversos músculos, cujo número varia em função da intensidade: um beijo carinhoso mobiliza 17 músculos; um mais apaixonado pode chegar aos 29, segundo a tese de doutoramento em Medicina da francesa Martine Mourier, que dedicou as duzentas páginas do seu trabalho aos efeitos do beijo.

Outras revelações: a pressão exercida pode atingir os 12 quilos, os batimentos cardíacos disparam dos 70 para os 150 por minuto. Na troca de saliva são trocadas pelos menos 250 bactérias, usada 9 miligramas de água, 18 de substâncias orgânicas, 7 decigramas de albumina, 711 miligramas de materiais gordurosos e 45 miligramas de sais minerais.
Favorece portanto o aparelho circulatório e beneficia a oxigenação do sangue.
Interessante não é?

O encanto do beijo não está apenas no simples ato ou efeito de pressionar os lábios ou nos movimentos de sucção sobre qualquer coisa ou pessoa.

Vamos ver um pouco da sua história:
Os mais antigos relatos sobre o beijo remontam a 2.500 a.C., nas paredes dos templos de Khajuraho, na Índia. Diz-se que na Suméria, antiga Mesopotâmia, as pessoas costumavam enviar beijos aos deuses. Na Antiguidade também era comum, para gregos e romanos, o beijo entre guerreiros no retorno dos combates.

Era uma espécie de prova de reconhecimento. Aliás, os gregos adoravam beijar. Mas foram os romanos que difundiram a prática. Os imperadores permitiam que os nobres mais influentes beijassem seus lábios, e os menos importantes as mãos. Os súbditos podiam beijar apenas os pés. Eles tinham três tipos de beijos: o basium, entre conhecidos; o osculum, entre amigos; e o suavium, ou beijo dos amantes.

Na Escócia, era costume o padre beijar os lábios da noiva ao final da cerimónia. Acreditava-se que a felicidade conjugal dependia dessa benção. Já na festa, a noiva deveria beijar todos os homens na boca, em troca de dinheiro. Na Rússia, uma das mais altas formas de reconhecimento oficial era o beijo do czar.

No século XV, os nobres franceses podiam beijar qualquer mulher. Na Itália, entretanto, se um homem beijasse uma donzela em público, era obrigado a casar imediatamente. No latim, beijo significa toque dos lábios. Na cultura ocidental, ele é considerado gesto de afeição. Entre amigos, é utilizado como cumprimento ou despedida; entre amantes e apaixonados, como prova da paixão.

Mas é também um sinal de reverência, ao se beijar, por exemplo, o anel do Papa ou de membros da alta hierarquia da Igreja. No Brasil, D. João VI introduziu a cerimónia do beija-mão: em determinados dias o acesso ao Paço Imperial era liberado a todos que desejassem apresentar alguma reivindicação ao monarca. Em sinal de respeito, tanto os nobres, como as pessoas mais simples, até mesmo os escravos, beijavam-lhe a mão direita antes de fazer seu pedido. Esse hábito foi mantido por D. Pedro I e por D. Pedro II.

No que concerne à química do beijo:
O beijo estimula a liberação de hormonas que causam bem-estar.
As terminações nervosas reagem ao estímulo erótico e promovem uma reacção em cadeia. Ao mesmo tempo, as células olfactivas do nariz – mais próximas da boca – permitem tocar, cheirar e degustar o outro.
Beijar activa a libertação de feromonas que, são percepcionadas pelas mulheres de forma inconsciente, na escolha dos parceiros e que portanto, desempenha um papel fundamental na atracção sexual.
Então ai, se entende porque atrás dum beijo vem outro outro e mais outro… e dificilmente se consegue parar!

Relativamente ao simbolismo do “Beijo” pode ser visto pelas várias perspectivas. Pois tanto beijamos por paixão, educação, costume, mas também por respeito ou até por mera formalidade. A própria forma como beijamos varia de acordo com o que queremos expressar.
Naturalmente o beijo torna-se diferente nas suas significações segundo a zona beijada e a ocasião em que este se efectua.

Quanto ao “bom beijo” entre dois enamorados… a sua arte não está na técnica ou na habilidade do seu acto. Muito mais que isso…

Quando se trata de temas, como este, que envolve muitas teorias (e por sinal todas elas interessantes) eu gosto de ser mais pragmática. E vejo as coisas duma forma mais simples e prática (desculpem os amigos!).
Um beijo é muito mais que lábios fundidos ou línguas entrelaçadas. E até mesmo que libertação de hormonas….
Um beijo sem um olhar, sem verbalização, sem um toque no corpo... é a mesma coisa que comer um belo manjar só com a boca, sem paladar e sem cheiro. Um autentico desconsolo!...

Na minha modesta opinião, acho que se beija muito e com má qualidade hoje em dia, lá com as modernices das relações casuais e de rápido consumo… E entre duas pessoas quando o beijo não funciona!...

Acredito que qualquer pessoa pode “beijar bem” e até prender o outro com um beijo. O tal beijo fatal, que prende e apaixona!… Quer se tenha lábios grossos ou finos, língua mais ou menos ágil, boca maior ou menor…
O que é preciso, é saber criar o desejo, criar estimulo…
Olhos nos olhos, mãos suadas, coração acelerado, respiração folgante, lábios hesitantes. Tensão e emoção. Que maravilha!....

O beijo é bom sem dúvida. Mas o seu encanto está na magia, na sedução envolvente, entre duas almas que se querem tocar saboreando-se com os prazeres da volúpia e sensualidade na sua tri-dimensão: espiritual/psicológica/fisica.

Maria Cristina Quartas
Fevereiro 2010