segunda-feira, 1 de novembro de 2010

"Festum Omnium Sanctorum", por Maria Cristina Quartas


(Dia dos Fiéis Defuntos - Partilho a minha opinião sobre este dia...)


Numa sociedade materializada em que não há tempo para os afectos, nem para as manifestações de sentimentos de amor, de amizade, de respeito, de partilha, de estima... Numa sociedade em que se esquecem as pessoas ainda vivas. O culto da morte é um acto colectivo, um acto cultural social-religioso, que parece querer relembrar a importância do outro nas nossas vidas. E por conseguinte, a importância da própria vida.

Algo controverso e ambíguo: se por um lado não lembramos, por outro não queremos esquecer.

Parece assim, que a morte, é um processo que nos traz à consciência a importância da vida. Por outro lado, ao rejeitarmos a morte e a tornando tabu, estamos a renegá-la.

Ela é o acontecimento que mais sofrimento provoca no ser humano. A separação, a despedida, a saudade, a solidão, o fim de tudo, criam angustias tais, que os nossos meios de defesa e de pensamento racional não conseguem suportar e entender. Por isso (duma forma inconsciente) esquecemo-la. Evitamos de falar nela e raramente pensamos no nosso fim ou daqueles que nos são queridos.

Numa sociedade em os valores espirituais são cad

a vez mais esquecidos e se valoriza mais o Ter do que o Ser... em que os desafios cada vez são mais, na conquista da auto-afirmação na construção do individualismo, egocentrismo de cada um de nós... nesta vida desenfreada na selva que habitamos....o dia de Todos os Santos ou Fiéis Defundos, não passa duma comédia traduzida numa tradição religiosa hipocritamente alimentada (por todos em geral e por cada um em particular). E a Igreja sustenta essa hipocrisia, sem nada fazer no sentido de consciencializar as suas massas da importância da Vida, com teorias eloquentes, em vez de alimentar os medos e anseios da Morte. Alimentando o desconhecido, com fantasias obsoletas de crenças do sobrenatural, criando divindades, deuses e demónios - céus e infernos.

Porque não rever a perspectiva das coisas, duma forma mais racional, mais realista e enquadrada com as necessidades da vida, numa Filosofia mais pragmática desta passagem Terrena? Uma Doutrina mais Racional de valores, de principios e de ética humana (humanizada), em que a neo-Religião não tivesse como lema REZAR (Pedir), mas sim IRRADIAR (atrair pensamentos positivos).

Relembrar quem já partiu (morreu) ou está ausente... também faz parte desta Vida, obviamente. A saudade é um sentimento que precisa de alimento e manifesta-se pela linguagem da necessidade de manifestações/comportamentos humanos. Sentir em silêncio, chorar ou manifestar-se através dum ritual (por exemplo). Mas com sentimentos de gratidão, reconhecimento, saudade e afecto.

Religar ao ser ausente através de pensamentos de bem querer, de Amor Universal... é a maior homenagem que lhe podemos fazer.

Apesar de acreditar convictamente na continuidade da vida (na existência da metafisica e na evolução desta, bem como na transformação da matéria), costumo dizer: Dêem-me flores em Vida.

Pensem em mim, irradiem-me, cobram-me de flores e de carinhos. E quando morrer, queimem o meu corpo efémero e deitem ao vento o pó em cinzas que restará de mim.


Maria Cristina Quartas


http://www.youtube.com/watch?v=YMifpIvSDUs