sábado, 24 de outubro de 2009

O desenvolvimento intelectual/cognitivo ao longo do ciclo vital: breve reflexão

Embora desde a Grécia antiga se hajam formulado diversas teorias sobre o desenvolvimento cognitivo e intelectual (a aprendizagem), as mais salientadas na educação contemporânea são a de Jean Piaget e a de Lev Vygotsky.

Tanto um como o outro postulam diferentes estádios de desenvolvimento, segundo as diferentes formas de pensamento cognitivo.

Segundo Piaget, a inteligência constrói-se progressivamente ao longo do tempo, por estádios ou etapas constantes e sequenciais, ou seja, de ordem invariável (sequencia regular).

Este autor apresenta-nos assim, 6 estádios diferentes:
- Estádio sensório-motor (dos 0 aos 18/24 meses);
- Estádio pré-operatorio (dos 2 aos 7 anos);
- Estádio das operações concretas (dos 7 aos 11/12 anos);
- Estádio das operações formais (dos 11/12 aos 15/16 anos).
Defendendo uma posição construtivista/interaccionista: as estruturas do pensamento são produto de uma construção contínua do sujeito que age e interage com o meio, tendo um papel activo no seu próprio desenvolvimento cognitivo.

Os estudos de Lev Vygotsky postulam uma dialéctica das interacções com o outro e com o meio, como desencadeador do desenvolvimento sócio-cognitivo. Para Vygotsky e seus colaboradores, o desenvolvimento é impulsionado pela linguagem. Eles acreditam que a estrutura dos estágios descrita por Piaget seja correcta, porém diferem na concepção de sua dinâmica evolutiva.
Enquanto Piaget defende que a estruturação do organismo precede o desenvolvimento, para Vygotsky é o próprio processo de aprender que gera e promove o desenvolvimento das estruturas mentais superiores.
É com base nestes estádios de desenvolvimento intelectual/cognitivo que o ser humano é construído intelectualmente ao longo de toda a sua vida.

Um outro autor contemporâneo também, muito interessante, é Erick Erickson. Este autor enfatiza a importância da interacção da pessoa com o meio que a rodeia. Para além destas fases faz referência às etapas de desenvolvimento ao longo da vida, ou seja, ao ciclo vital.
Influenciado por Freud a sua doutrina assenta na ideia de que o percurso existencial de cada indivíduo gira em torno da construção de um sentimento de identidade.
Apologista da teoria dos estádios, fala-nos que estes se desenvolvem pela existência de uma crise psicossocial ou conflito. O indivíduo ao interrogar-se sobre a sua identidade em cada um dos estádios alcança uma resposta diferente. Em cada estádio os indivíduos devem realizar uma tarefa diferente para passarem para o estádio seguinte.
Deste modo, refere-se a mais fases do que os outros autores. Mais concretamente, às fases: jovem adulto, adulto e idoso. Para cada uma destas fases são descritos os conflitos com que se debatem os indivíduos e a forma como os podem resolver.

O interesse particular de Piaget e Lev Vygotsky, e outros autores, nestes estudos nos primeiros anos de vida do indivíduo, prende-se com o facto de se considerar que os primeiros anos de vida são os mais relevantes e a base de todo o processo procedente do pensamento posterior no ser humano.

Na minha modesta opinião, e apesar de não discordar com a ideia base do interesse destes estudos, considero que ao longo da vida dum indivíduo, existe muito mais estádios para além dos 4 ou 6 apontados pelos autores. Ou até mesmo, para além dos 3 apontados por Erick Erickson.

É um facto também, que existe muito pouca literatura sobre estudos nas fases posteriores à adolescência.
Constatei pessoalmente isso numa pesquisa bibliográfica que tive que fazer para um estudo que efectuei na Faculdade de Psicologia – Universidade do Porto, sobre a 3ª idade.

Penso que ao longo da vida, passamos por variadas fases de desenvolvimento intelectual. Não sei se será um processo de sequência invariável ou não. Mas pela elaboração da estrutura do pensamento e dos esquemas mentais dai resultados, considero a fase adulta e 3ª idade fantásticas para áreas de estudo.

Pena que não haja mais investigação sobre isso, para que nas nossas Universidades pudesse haver um programa mais aprofundado e completo que contemplasse todo o ciclo vital, e não apenas a infância, em cadeiras específicas da Psicologia do Desenvolvimento.

Maria Cristina Quartas
Outubro/2009

A importância dos Amigos no nosso crescimento


Uma das coisas que mais me marcou recentemente foi eu me ter apercebido, a certa altura dentro de mim, uma mudança repentina. Se não foi repentina, foi de repente que me apercebi que estava diferente.

Muitas das vezes me questionava como era possível certas pessoas aguentarem alguns problemas tão difíceis e enfrentarem certos desafios bem complicados!

Naturalmente crescemos e vamos mudando as nossas formas de pensar e de ver o mundo. Valores e conceitos vão-se renovando e dessa forma assim, vamo-nos “actualizando” neste labirinto da vida.

Talvez a maioria das pessoas não se apercebem destas mudanças interiores porque não fazem uma auto-analise mais aprofundada, ou porque essa mudança vai sendo feita duma forma mais lenta (pelas circunstancias da vida) ou porque ainda não chegou o momento da necessidade dessa auto-reflexão.

Sem qualquer rigor científico, e com base naquilo que penso ser o desenvolvimento cognitivo/intelectual no indivíduo, estruturei as minhas ideias soltas em algo mais conciso.
Considerando apenas a fase da vida adulta, penso que as coisas possam ser esboçadas (mais ou menos) da seguinte forma:

Até aos 35-40 anos, poderíamos dizer que nos encontramos numa fase de formação. Fase essa, em que apenas absorvemos informação e nos apetrechamos dos instrumentos necessários para trabalhar o sentido da vida.

Só depois dos 40 até aos 50-55, entramos então, numa fase de estágio, em que começamos a aplicar os conhecimentos até ai adquiridos e a moldar as interpretações das coisas com base nas nossas estruturas até ai criadas.
Nessa fase, há certamente, necessidade de ajustar e refinar alguns conceitos e pensamentos, de forma a tornar mais compreensível o significado e sentido das coisas. E por conseguinte, mais adaptados às realidades da vida.
Se por um lado, tentamos adaptar as coisas com base nas nossas estruturas, por outro, há também necessidade de refinar e ajustar (por sua vez) essas mesmas estruturas internas.
Esta fase, embora com tendência à simplificação das coisas, é por sua vez, a mais complexa e que exige maior grau de aplicação e de esforço racional e inteligível. Por isso, é uma fase de reflexões profundas, de reconstruções, interpretações e de avaliações dos (pré-)conceitos, valores, princípios, etc...
Atingir o equilíbrio e a sensação da serenidade interior, passa a ser um dos objectivos a traçar essencialmente nesta fase.

Só depois, dos 55-65, entramos numa fase mais amadurecida da vida. A experiência vivida no seu sentido prático e as teorias que fomos formulando para a explicação das coisas que questionamos, permite-nos ter um sentimento mais arrojado e mais aptos a afrontar e suportar as intempéries da vida. Nessa altura, talvez já sejamos capazes de enfrentar qualquer situação duma forma serena e tranquila, porque sabemos que possuímos os instrumentos de trabalho necessários e que somos capazes de utilizá-los duma forma adequada. Predominando fortemente a assertividade e a ponderação.

Talvez, só depois dos 65-70, sejamos capazes de pegar nisto tudo e começar a saborear o verdadeiro sentido da vida. Sermos capazes de distinguir duma forma consciente e justificada o "trigo do joio". Sermos capazes de reter e esmiuçar o que realmente é importante e é proveitoso.

O período mais aprazível de se viver, seria (idealmente) a partir dos 70-75. Altura em que nos sentiríamos com maior força e vontade de viver. Irradiados pelo prazer do conhecimento de toda esta magnífica aprendizagem na maior e verdadeira Universidade – que é a Escola da Vida, sentiríamos também a responsabilidade de transmitir o que aprendemos. Duma forma humilde, natural, e simplificada.

Naturalmente que, ao reconhecermos as potencialidades que possuímos e a consciência da importância do conhecimento da vida, o nosso olhar perante a Natureza e o Mundo que nos rodeia, seria certamente algo que eu considero de mais maravilhoso e sublime.

Desta forma tão individualizada, que é no fundo o trabalho em cada um de nós, umas vezes alunos, outras professores, vamos prosseguindo nesta nossa existência não só para se aprender a viver, mas também para sabermos morrer.

Por tudo isto, há necessidade de aproveitar cada minuto, cada oportunidade que a vida nos apresenta. Pelo simples facto, de ela ser tão efémera na amplitude do próprio conhecimento.

Compreender a importância de nos conhecermos mais e melhor, nesta projecção intrínseca e extrínseca e compreender a necessidade da partilha e o valor daquilo que designamos por Amizade.

Partilhar com os outros, acaba por ser, a forma mais inteligente de estar na vida. Dar/receber numa perpétua busca da satisfação plena de que vale a pena viver apesar de efectivamente sermos individuais num trabalho que é da responsabilidade de cada um de nós.

E é ai que entram os Amigos, através da linguagem dos afectos, na partilha da dor e da angustia geradas neste nosso crescimento. Por outro lado também, para nos fazer lembrar, que a vida de tudo nos dispõe para seremos felizes - com os pequenos momentos de satisfação na realização das nossas conquistas e nos desafios ultrapassados.

Maria Cristina Quartas

Eles são…

Eles são...
duas chamas divinas,
são cristalinas,
São raios de luz.
São duas almas caridosas,
são graciosas,
as que te conduz.
São duas bolas de cor,
são cheias de amor,
que enchem a minha alma.
São duas estrelas,
são belas,
e que a tudo acalma.
São dois diamantes,
são brilhantes,
os teus olhos azuis.

Maria Cristina Quartas

A Vida

Bruma suave a leva
ao sabor do vento
na mais doce canção.
Desliza
e
rodopia,
passa rente pelo chão.

Lentamente se levanta
e
dança.
Baila livre
sem destino,
sem direcção.
Vive
e
sonha,
desfrutando com todo o prazer
a sua aventura
de livre viver.

Já cansada
não baila…
não dança…
fica pairando no ar.
Vivendo
sozinha com a solidão,
perde-se da coragem
e da fantasia.
Mas da sua liberdade… NÃO!

Maria Cristina Quartas

Canto da fidelidade

Serei fiel ao meu Amigo.
Estarei sempre ao seu lado nesta jornada.
Se preciso for, com ele subirei a mais alta montanha,
caminharei a mais longa estrada.

Serei fiel ao meu castigo.
Terei por ele o meu pago,
se assim o destino quiser
neste Mundo de pecado.

Serei fiel à Natureza.
Nunca a misturarei com infernos
ou com céus.
Foi nela que nasci e nela ma transformei
- Apenas um pouco de Deus.

Serei fiel ao amor.
Acreditarei nele com veracidade.
Mesmo sendo ilusão
para mim será a realidade.

Serei fiel ao Sol… à Lua…
Serei fiel à minha própria loucura.
E sendo fiel
à própria infidelidade,
serei sempre louca até à eternidade.

Maria Cristina Quartas