sábado, 24 de outubro de 2009

A importância dos Amigos no nosso crescimento


Uma das coisas que mais me marcou recentemente foi eu me ter apercebido, a certa altura dentro de mim, uma mudança repentina. Se não foi repentina, foi de repente que me apercebi que estava diferente.

Muitas das vezes me questionava como era possível certas pessoas aguentarem alguns problemas tão difíceis e enfrentarem certos desafios bem complicados!

Naturalmente crescemos e vamos mudando as nossas formas de pensar e de ver o mundo. Valores e conceitos vão-se renovando e dessa forma assim, vamo-nos “actualizando” neste labirinto da vida.

Talvez a maioria das pessoas não se apercebem destas mudanças interiores porque não fazem uma auto-analise mais aprofundada, ou porque essa mudança vai sendo feita duma forma mais lenta (pelas circunstancias da vida) ou porque ainda não chegou o momento da necessidade dessa auto-reflexão.

Sem qualquer rigor científico, e com base naquilo que penso ser o desenvolvimento cognitivo/intelectual no indivíduo, estruturei as minhas ideias soltas em algo mais conciso.
Considerando apenas a fase da vida adulta, penso que as coisas possam ser esboçadas (mais ou menos) da seguinte forma:

Até aos 35-40 anos, poderíamos dizer que nos encontramos numa fase de formação. Fase essa, em que apenas absorvemos informação e nos apetrechamos dos instrumentos necessários para trabalhar o sentido da vida.

Só depois dos 40 até aos 50-55, entramos então, numa fase de estágio, em que começamos a aplicar os conhecimentos até ai adquiridos e a moldar as interpretações das coisas com base nas nossas estruturas até ai criadas.
Nessa fase, há certamente, necessidade de ajustar e refinar alguns conceitos e pensamentos, de forma a tornar mais compreensível o significado e sentido das coisas. E por conseguinte, mais adaptados às realidades da vida.
Se por um lado, tentamos adaptar as coisas com base nas nossas estruturas, por outro, há também necessidade de refinar e ajustar (por sua vez) essas mesmas estruturas internas.
Esta fase, embora com tendência à simplificação das coisas, é por sua vez, a mais complexa e que exige maior grau de aplicação e de esforço racional e inteligível. Por isso, é uma fase de reflexões profundas, de reconstruções, interpretações e de avaliações dos (pré-)conceitos, valores, princípios, etc...
Atingir o equilíbrio e a sensação da serenidade interior, passa a ser um dos objectivos a traçar essencialmente nesta fase.

Só depois, dos 55-65, entramos numa fase mais amadurecida da vida. A experiência vivida no seu sentido prático e as teorias que fomos formulando para a explicação das coisas que questionamos, permite-nos ter um sentimento mais arrojado e mais aptos a afrontar e suportar as intempéries da vida. Nessa altura, talvez já sejamos capazes de enfrentar qualquer situação duma forma serena e tranquila, porque sabemos que possuímos os instrumentos de trabalho necessários e que somos capazes de utilizá-los duma forma adequada. Predominando fortemente a assertividade e a ponderação.

Talvez, só depois dos 65-70, sejamos capazes de pegar nisto tudo e começar a saborear o verdadeiro sentido da vida. Sermos capazes de distinguir duma forma consciente e justificada o "trigo do joio". Sermos capazes de reter e esmiuçar o que realmente é importante e é proveitoso.

O período mais aprazível de se viver, seria (idealmente) a partir dos 70-75. Altura em que nos sentiríamos com maior força e vontade de viver. Irradiados pelo prazer do conhecimento de toda esta magnífica aprendizagem na maior e verdadeira Universidade – que é a Escola da Vida, sentiríamos também a responsabilidade de transmitir o que aprendemos. Duma forma humilde, natural, e simplificada.

Naturalmente que, ao reconhecermos as potencialidades que possuímos e a consciência da importância do conhecimento da vida, o nosso olhar perante a Natureza e o Mundo que nos rodeia, seria certamente algo que eu considero de mais maravilhoso e sublime.

Desta forma tão individualizada, que é no fundo o trabalho em cada um de nós, umas vezes alunos, outras professores, vamos prosseguindo nesta nossa existência não só para se aprender a viver, mas também para sabermos morrer.

Por tudo isto, há necessidade de aproveitar cada minuto, cada oportunidade que a vida nos apresenta. Pelo simples facto, de ela ser tão efémera na amplitude do próprio conhecimento.

Compreender a importância de nos conhecermos mais e melhor, nesta projecção intrínseca e extrínseca e compreender a necessidade da partilha e o valor daquilo que designamos por Amizade.

Partilhar com os outros, acaba por ser, a forma mais inteligente de estar na vida. Dar/receber numa perpétua busca da satisfação plena de que vale a pena viver apesar de efectivamente sermos individuais num trabalho que é da responsabilidade de cada um de nós.

E é ai que entram os Amigos, através da linguagem dos afectos, na partilha da dor e da angustia geradas neste nosso crescimento. Por outro lado também, para nos fazer lembrar, que a vida de tudo nos dispõe para seremos felizes - com os pequenos momentos de satisfação na realização das nossas conquistas e nos desafios ultrapassados.

Maria Cristina Quartas

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