domingo, 18 de outubro de 2009

O acordar

Por instantes, ela parou,
em frente do espelho.
Com um certo receio
levantou a cabeça,
e se olhou.
De tão perto estar,
longe se sentiu,
desconhecendo-se a si mesma.
Um frio lhe percorreu o corpo.
E,
teve vontade de chorar.
No seu rosto, o tempo
gravara as marcas duma vida.
Dum passado tão fugaz,
numa passagem tão despercebida.
O tempo se fez aquele instante,
e aquela imagem,
se fez nela.
Observou o espelho.
Observou-se em si mesma.
Com melancolia e desilusão
acariciou seu rosto.
Suas mãos enrugadas
continham a brancura da delicadeza:
dedos finos, encurvados,
instrumento de trabalho e lavor,
das horas sem fim,
a lavar, a cozer,
a afagar com amor.
Lentamente
afagou seu cabelo alvo,
cunho das horas perdidas,
feição do tempo,
marcas das emoções sentidas.
E seus olhos…
Esses,
apesar de tudo
continuavam vivos e atentos
como há vinte, trinta, quarenta anos atrás.
E,
Subitamente um lindo sorriso
quebrou a desilusão daquela imagem…
Da dor ao amor,
assim ela se sentiu.
Porque apesar de tudo,sentia-se ainda viva

Maria Cristina Quartas

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