segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

"Momentos majestosos", por Maria Cristina Quartas



Mós, Setembro de 1974


Naquela manhã o meu acordar foi diferente.

O galo da D. Susana deu os “bons dias” mais tarde e não esperou pelas pausas do silêncio para se fazer ouvir, como de costume.

O macho do Sr. Amadeu Andrade também não tinha feito o seu solene sapateado nas pedras do Vale Trigo.

Nem as ovelhas do Sr. Bichança tinham levantado o pó seco e feito a sua garraiada desafinada naquele caminho.

O sol estava preguiçoso. E até a aragem estava com menos vida.


O despertar da aldeia, desta vez foi após as 7 baladas da Ave-Maria da igreja do largo do Terreiro. Algo diferente se passava. Sentia que algo de estranho teria ou estava para acontecer.


Um pouco intrigada, levantei-me sem os rituais do costume.

Antes de calçar os sapatos bati um no outro e sacudi-os bem (não fosse algum lacrau meter-se lá dentro e seria fácil não o ver – como a mãe sempre alertava).

Entrei na sala ao lado, que tinha o alçapão e tecto forrado. E pressenti a presença da minha mãe ali junto à porta que dava para o pátio e para a cozinha.


A mãe estava a arranjar peixes do rio, trazidos pelo Sr. Idérito, do rio Douro, no dia anterior ao fim da tarde.

Em pé, junto ao muro que dava para o prédio ao lado e ficava à face do caminho do Vale Trigo, mergulhava numa bacia as postas ensanguentadas na água gordurosa avermelhada e cheias de escamas, enquanto impacientemente algumas abelhas, muitas moscas e varejas observavam a oportunidade de lhes pousar.


Na sala, havia uma mesa grande de madeira coberta por uma toalha de plástico comprada no “sótão” do Sr. José Castedo. No seu centro, havia uma cafeteira da cevada a fumegar, rodeada de algumas canecas com o desenho do cavalinho. Uma caixa de Lorenin e outra de Lexotan. Um enorme pão de centeio da Horta e meio pão de 4 cantos de Padronelo; um pedaço de queijo de cabra; 1 pacote de Planta; um prato com bêberas (figos pretos), junto a 2 grandes cachos de uvas moscatel dado pelo Sr. António Calça numa das suas passagens ali no caminho do Vale Trigo em direcção ao rio Douro.


Meti a mão por entre as fitas plásticas coloridas da porta e aproximei-me da minha mãe.

Dei-lhe os “bons dias” e perguntei pelo meu pai.

“Bom dia filha. Dormiste bem? O paizinho está ali em cima na Corte Queimada, atrás daquele palheiro. Eu bem lhe disse para não comer tantas uvas ao jantar… passou mal a noite toda e agora foi ali em cima para estar mais à vontade… Eu também não estou bem, contínuo com esta dor de cabeça. Falta-me o ar… Este tempo dá cabo de mim. Este ar seco já há 3 dias ameaça mau tempo! Quando ele rebentar, vai dar cabo disto tudo. O povo assim nem vai às vindimas, nem o pastor sai com o rebanho. Eles conhecem bem o tempo!… e é disso que eu tenho medo. Ainda cai aqui algum relâmpago e fica p’raí tudo a arder…. Não temos água… O tio Elísio até já avisou, que só para amanha é que nos traz 2 cântaros. A fonte só deita um fiozinho de nada. As mulheres estão lá a noite toda à espera de vez. Temos de poupar a pouca que temos. Eu queria ir embora, mas o paizinho adora isto! Não sei o que estamos aqui a fazer! Se ainda estivéssemos em Freixo!.... A tia Maria quer que lhe faça uma saia duma fazenda que lhe dei para aí há 10 anos… e há 10 anos que lhe prometo que lha faço!”


Sentia a minha mãe nervosa e angustiada.

Era sabido que ela não gostava de estar nas Mós. Mas a sua ansiedade era de tal forma que, sem querer, transpunha para mim toda a sua aflição e nostalgia.


As trovoadas eram medonhas… E mais ali, junto aos pés da Sta. Bábara, em que os montes formavam um cova funda e abrigavam os ecos tortuosos dos relâmpagos de todos os montes ali em redor.

Naquela altura do ano, estava tudo seco. E não havia qualquer filtro para os raios do trovão. E já não era a 1ª vez, que ficava a arder um palheiro ou um campo com erva bravia, por causa dos incêndios provocados pelos relâmpagos.

Em redor da aldeia, era difícil lá chegar. Não havia caminhos. Não havia bombeiros. Não havia água.

E se o pai piorasse ou se sentisse mal? Quem o levaria a um médico? Quem estaria disponível no povo? Andava tudo à vinha e à amêndoa! O único médico que havia era em Foz-do-Coa. Que ficava a 40 Km. Tínhamos que ir a Freixo de Numão. Era perigoso com o mau tempo andar de carro naquelas estradas muito estreitas e cheia de curvas, que muitas vezes ficavam interditas com os barrancos das vinhas desfeitos com as chuvas e as trovoadas.


Sentia a angústia, preocupação e completamente indefesa…

Queria vir-me embora. Ou então ir para Freixo. Lá sempre haveria 1 táxi, do Sr. Manuel. Era uma aldeia plana, mais alegre, mais airosa…

E eu sentia-me confusa…


Nisto, de cima do socalco, no terreno em frente, o meu pai chamava-me: “Rustininha, anda cá num instante e traz-me essa vara que está aí na sala junto ao alçapão e um saco. Há aqui ainda boa amêndoa…”

Aquele Rustininha!... Meu pai não era nada de diminutivos. E raramente me chamava assim. Mas esta era a sua forma afectuosa de trato para comigo.

Um pouco contrariada e aborrecida, lá fui buscar o que o meu pai me pedira.

Subi o barranco do solo granulado e, por entre torrões de terra, pedras, ervas secas e cardos (unhas de gato), jaziam muitas cascas frescas aveludadas e verdes. Meias escondidas, algumas amêndoas espreitavam.


Com a vara, o meu pai fazia descobrir aquelas que se escondiam por debaixo das pedras e das palhas.

Parava em cada amendoeira e ficava a olhar para os seus ramos…

Algumas ainda eram do ano passado… outras estava ali à espera de serem varejadas… No "rabusco" sempre se encontra muita amêndoa ainda.

“Vá, apanha esta!”…

O toque do pau era assertivo e seco. No tronco certo.

As amêndoas saltavam longe. Era preciso atenção aos gestos do meu pai. Eu fitava a amêndoa e acompanhava-a no seu percurso. Em pequenas corridas de passos ligeiros ia atrás dela.

Umas vezes caia em cima da terra revolta, outras no meio dos cardos e das pedras…Saltitava, e aninhava… saltitava e aninhava…repetidamente.

E enquanto eu saltitava, atrás das amêndoas e as metia dentro do saco ia retirando-lhes a “saia verde”, que algumas vezes já estava solta, outras estava presa e colada. Era uma pele grossa, dura, seca e verde aveludada.

Outras vezes havia, que no meio daquela azáfama, algo me chamava à atenção “Paizinho que é isto? Parece um sininho! Olha, e faz barulho!...”.

Meu pai ia explicando, as plantas silvestre que conhecia (rosmaninho, orégãos, zimbro, fiolho, alfazema, camomila, malvas, trovisco, carqueja, etc.) e a sua função para atrair os animais…


No meio daquela terra árida e aparentemente sem vida, existia um mundo fantástico de coisas variadas em miniatura: pedras brancas em forma de cristais… pedaços de micas laminadas que pareciam escamas prateadas… plantinhas com as mais diversas formas e tonalidades… formigas enormes e com asas… borboletas de todas as cores… pequenos répteis fugidios… libelinhas, louva-a-deus …. e dezenas, centenas de gafanhotos enormíssimos a saltitar na sua liberdade nos nossos pés (algumas maiores, saltavam à minha altura…) que mais pareciam fazer cópia dos meus movimentos.


A apanha da amêndoa, era de facto extraordinária, não só pela forma como ela é colhida mas pelo contacto que se tem de perto com o micro mundo da Natureza selvagem.


Descontraído, calmo, sereno… o meu pai assobiava com os lábios entre os dentes e cantarolava modinhas antigas da terra…. “O carrapito da Dona Aurora era postiço soubesse agora…”. “A mãe chamou pela Amélia, e a Amélia disse que já vinha. Oh Amélia, Oh Amélia! Senhora minha mãe já lá vou…”.

Eu ficava a olhar para ele… sentia-o feliz. Muito feliz!


De vez em quando parava.

Queixo em cima das mãos… uma em cima da outra… sobre a ponta do pau espetado na terra… ficava com os seus olhos muito azuis, muito grandes e brilhantes, a olhar fixo para o chão… Outras, com um olhar profundo e distante para lá longe dos montes….

Fazia os seus monólogos em voz baixa, monocórdica e arrastada: falava do seu pai, do seu avó, dos tios… Eram palavras soltas. Palavras desconectadas e sem sentido….

E eu sentia-me confusa…


Numa dessas suas paragens, vi-o fixo a olhar um ramo mais alto.

Olhei também a ver se via (ou se entendia) o que ele estava a ver…

Uma enorme amêndoa! Uma como eu nunca tinha visto: em forma de um grande coração com 3 cabeças….

Um pequeno toque muito firme e seco não chegou. Esta, só no 3º toque – forte e certo.

Ali mesmo à beira, ela cai pesada…”POC”

Àquela, ele fez questão de ser ele apanhar.

Em pé, junto a ele… os 2 a olhar a amêndoa. Pousou-a no meio da palma da sua mão (uma mão grande com unhas alongadas perfeitas… uma mão muito bonita e asseada…)

Ficou a olhar: primeiro, um ar sério. Depois um lindo sorriso! Uma boca grande e bonita. Uma covinha do lado esquerdo que se encolhia e sorria também…E olhos… os olhos grandes, muito azuis com muito brilho e cheios de água…

“Ai menina… eu não via uma amêndoa destas há muito muitos anos. Talvez há 50 anos…… e lembro-me do meu avô, teu bisavô paterno me explicar: estas amêndoas são raras. São amêndoas da Trovoada. A árvore que der desta amêndoa levou com um raio de trovoada em cima. Quem encontrar uma, fica protegido do perigo. Esta árvore deve ser muito antiga… Então!...já me lembro dela e era mais novo que tu!... já lá vão muitos anos!... Pega, guarda-a para ti. Ela irá proteger das trovoadas! Nada de mal acontecerá onde estiveres!...”

Apertei-a na mão e nunca mais a larguei.


De repente, o céu começou a ficar cinzento.

O vento era abafado e quente. Lá longe, para lá de Seixas, o céu era noite escura…

Como é que ele sabia que o “mau tempo” vinha ali?…

Eu sentia-me confusa….


A determinada altura, ouço-o em tom de voz mais elevada: “Vamos menina, não tarda que ela esgace aí com toda a força… vamos para casa… vamos tomar o pequeno-almoço… Corre!”


Entramos na sala e sentamo-nos.

A mãe suspirava. Calada.

O pai com um ar calmo, tranquilo e maroto!

Para mim era confuso: a mãe triste e o pai alegre…


O pequeno-almoço era a refeição que melhor me sabia.

O pai pegou no pão da Horta (tinha chegado no dia anterior na camioneta, que apitava pela estrada até ao Terreiro…)

O pão ocupava o braço inteiro. Uma ponta na mão, a outra junto ao peito. A navalha que trazia no bolso era afiada… e rasgou uma fatia perfeita…

A cevada ainda estava quente, mas já não fumegava.

A mãe andava dentro e fora… o barulho das fitas na sua passagem era repetitivo…como se andasse à procura de “não sei bem o quê”.

“Fernanda, senta aqui mulher… nada vai acontecer. Nunca aconteceu e meus pais sempre aqui viveram… e na altura o povo era só à beira da Cardeira e no Castelo praticamente… Tens cada uma mulher! Olha só o que encontramos. A miúda que te mostre…”

Naquele preciso momento, a lâmpada da sala piscou 2 vezes consecutivas… depois mais outras 3 com intervalos incertos… A mãe ficou muito séria a olhar para a lâmpada e colocou a mão no peito “Ai Jesus!”

O pai ficou imóvel com um pedaço de queijo na mão e que ia meter à boca…


Sem saber o que ia acontecer, apertei forte a mão que tinha a amêndoa…. E nesse instante…. Ouve-se um estouro que ecoou durante alguns segundos duma forma continua e explosiva.

A lâmpada apagou-se. E ficou um silêncio absoluto na sala com os ecos do silêncio apavorantes ainda a repercutirem no temor que causou .

“Mesmo aqui em cima de nós” Diz o pai.


A mãe fechou a porta da sala e colocou a tranca. Com ar de pânico disse “Cristininha e Nelinho, vamos para cima da cama…”

Fomos os 3 para cima da minha cama. Enquanto o meu pai estava junto da janela a olhar os relâmpagos.


Santa Bárbara bendita, que no céu está escrita. Com papel e água benta nos livre desta tormenta“. Foi das poucas vezes que vi a minha mãe a rezar.

A trovoada esteve ainda para cima de uma hora a rebentar tempos sem fim… enquanto a minha mãe nos contava, que quando tinha a nossa idade, estava uma vez em Moncorvo, em casa da prima Alice, e o que lhes valeu, foi irem para cima da cama… porque os cobertores da serra não são condutores da energia das trovoadas.

O meu irmão dava risadinhas e sussurrava-me “É Jesus a ralhar-te!”…


Sentia-me protegida pelo meu amuleto, mas ao mesmo tempo confusa.

Porque de facto, há coisas que são preciso muitos anos para as entender…


A festa durou algum tempo. O tempo suficiente para rebentar em todos os montes. Medonho e soberbo sentir o poder da natureza na sua forma mais bruta e assistir aos mais belos feches de luz e cor no céu mesmo em cima dos montes. Um autêntico fogo de artifício da Natureza.

Sentia-me pávida e atenta ao barulho da trovoada e às histórias da minha mãe… Meu olhar era parado na janela que se avistava os montes do volfrâmio de freixo de Numão, à espera do próximo relâmpago e dos estrondos que se repercutiam. E mesmo assim assustava-me quando vinha mais um…

Fortes clarões no céu a cair nos montes… Via nitidamente os raios… enormes! Em forma de “Z” e de “Y”… eram seguidos…

O céu era coberto de nuvens escuras, pretas. Estava escuro, de noite. Os relâmpagos iluminavam num forte clarão amarelo… era uma cena surreal. Um cenário sombrio que se iluminava com luzes de ribalta de todas as direcções…

Raios, faíscas fortes, clarões intensos, contraste de luminosidade … juntamente com estrondos infernais….

Sentia-se o cheiro e o sabor da humidade quente no ar. Eram fortes. Cada vez mais forte.

Primeiro umas pingas grossas. Caiam na terra seca e árida e formavam bolas de pó… A chuva começou a aumentar…. Caiam pingas fortes, mais e mais….

Os relâmpagos eram já mais espaçados. E aos poucos e poucos ouvia-se entoando-os mais longe, nos outros montes…

Juntamente com eles, as nuvens foram arrastadas…


O pai entrou no quarto e disse “Já passou. Lindo o espectáculo!”.

Eu e o meu irmão saltamos de cima da cama, e fomos a correr para o Caminho do Vale trigo.


“Vamos ver quem chega primeiro” dizia o meu irmão.

Corríamos então, para dizer “adeus” à trovoada e sentir a beleza daquela natureza, agora pintada com cores mais vivas.

Subimos à Corte Queimada porque era um ponto mais alto.

Uma enorme serenidade e acalmia!...

O ar era fresco e aromatizado com o cheiro de todas as ervas silvestres dali do monte…

O sol brilhava nas cores resplandecentes da natureza – os verdes mais verdes e os castanhos mais castanhos…

Eu continuava com a amêndoa na mão a olhar na plenitude e a sentir a natureza com todos os meus sentidos mais despertos. O meu irmão sentia-se eufórico e corria dum lado para o outro à procura dos pequenos rastejantes escondidos por baixo das pedras…


Era já meio dia. Dum dia de Setembro, ali nas Mós.

Aos pouco e poucos, começava-se então a ouvir o povoado. Como acontecia na magia de todas as manhãs.

E num instante, se sentia de novo o barulho da vida do povo na aldeia.


Mais lindo que qualquer amanhecer, mais bela que qualquer madrugada… Aquele momento tinha sido fantástico. Soberbamente fantástico!

E então, quando o mau tempo já ia longe, e o sol sorria no céu a zul… Um enorme arco-íris se pintava no firmamento. Grande. Tão grande que abarcava duma ponta à outra todas as montanhas em redor…

Ali aos pés de Santa Bárbara, numa plateia privilegiada, eu sentia-me a assistir ao mais belo espectáculo da Natureza.

Foram precisos todos estes anos, para entender algumas destas coisas simples. Como por exemplo: porque é que em cima da mesa do pequeno almoço havia sempre uma caixa de Lexotan; porque é que o meu pai adorava tanto aquela aldeia; porque é que o meu pai me chamou para ir apanhar a amêndoa com ele quando a minha mãe estava a falar comigo; e porque me contou a historia da amêndoa protectora da trovoada…

E só hoje compreendo também, porque é que o meu pai segurava as mãos em cima da vara e olhava para lá longe… porque é que o meu pai tinha os olhos com lágrimas ao lembrar-se do seu pai Manuel Quartas e do meu bisavô.

Hoje entendo o que eu sentia naquela altura e o porque me sentia confusa em tantos momentos.

Porque de facto, há coisas que são preciso muitos anos para as entender.

Maria Cristina Quartas

5 comentários:

paulofski disse...

Cristina, este fiel relato que apaixonadamente fizeste de momentos tão majestosos num dia de Setembro passado na nossa aldeia das Mós, fez-me voltar a lembrar de tantos momentos que lá passei, pormenores que há muito permaneciam esquecidos a um canto no coração, instantes e lugares que partilhei nas vivências das pessoas e da natureza de tão simples terra. Chamavam de “rabusco” à apanha das amêndoas que ficavam esquecidas nos ramos das amendoeiras ou na terra, escondidas nas pedras ou no mato rasteiro. Eu, o meu irmão e o Carlitos, calcorreávamos todos aqueles campos e prédios, de lata na mão. Corriamos uma manhã inteira para encher de amêndoas uma lata de meio litro, e depois trocá-la por um punhado de moedas que, à tarde, enquanto o sol torrava cabeças e os heróis descansavam e conversavam da vida debaixo da árvore do terreiro, uma a uma, deitávamos aquelas rodelas castanhas de um escudo na ranhura dos matraquilhos do Sr. António. O jogo era renhido e divertido e para o vencedor estava reservada uma garrafinha de sumol. Ao final da tarde voltávamos a casa com a desculpa esfarrapada que a trovoada nos assustou as horas.

Sabes Cristina, não foram precisos tantos anos para eu entender porque é que os meus avós e os meus tios amavam tanto a sua aldeia; porque é que o meu pai preserva ainda e volta muitas vezes às suas raízes; porque é que os meus primos me pedem tanto para ir ter com eles. O que eu não entendo é porque que eu fui deixar as Mós tanto tempo esquecida no meu pensamento. Pelo menos a saudade fica um pouquinho atenuada lendo-te e escrevendo sobre ela.

Bem hajas

Beijinhos

Maria Cristina Quartas disse...

Viva Paulo Almeida!
Sinto um carinho e saudade imenso nas tuas palavras. É o que se chama de sangue e alma Mosense!
Obrigada por partilhares dos meus sentimentos e mostrares solidário nestas minhas recordações.
A vida é feita de fragmentos e vivências em tempos e espaços diferentes.
Nós somos fruto de tudo isso. Mas ter uma base sólida e feliz é muito bom. Porque é um marco na nossa identidade e a estrutura da nossa essência.
A vida vale a pena, pelos afectos. Os afectos são o mais importante da vida e das relações entre as pessoas.

Um forte abraço de amizade

Maria Cristina Quartas

luis carvalho meneses disse...

Maria Cristina,
não tenho palavras, estou completamente rendido ao teu talento , descreveste uma narrativa completa daquilo que se chama alma da aldeia de mós. Contudo sempre tive a convicção de que eras uma moça que tinha raizes durienses assim como eu, muito obrigada por me teres feito recordar as coisas simples e maravilhosas que por lá passamos. um enorme abraço de amizade.

carlos pedro disse...

O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo...

M. Araujo disse...

É um momento de oração, um tributo à terra que nos gerou. Quem melhor poderá descrever as coisas do passado? Pois é Cristina; acabamos por voltar aos lugares onde nos esperam.

Abraço