domingo, 15 de novembro de 2009

"Dialéctica"

Lá fora,
chovem gotas de ira
que penetram na terra devorasmente.
No solo corre o sangue da fúria
dos cadáveres mortos nesta aniquilação.

Lá fora,
as papoilas murcharam
e os pardais foram encarcerados.
Nada resta na natureza,
a não ser
capacetes marciais e…
alguns restos (já em putrefacção)
de algo chamado “Homem”
- aqui e além uns miolos e uma mão
esticada pedindo paz.

Lá fora,
tocam as cornetas
e já não há marchas.
Porque o som das cornetas
são gritos de desespero,
que fazem os esqueletos taparem
os ouvidos ou a saírem deste planeta.

Lá fora,
o epipétalo já não é mais estame,
mas bomba nuclear,
onde cada um espera colher o pólen,
para a sua própria sobrevivência.

Lá fora,
fazem abortos dos humanos
e fazem monstros em provetas,
e deixam parir os animais…
Selva tão coordenada…
Quem manda é o leão!

Lá fora,
há já um projecto para uma estátua
dum soldado desconhecido
e sepultam tantos esquecidos!

Lá fora,
é o século das luzes…
Oh, raio de vida,
que me pariste
na maior escuridão dos milénios!

Lá fora,
os defuntos vestem de luto.
Aqui,
Eu visto de branco.

Maria Cristina Quartas

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